Que ela tenha ganhado em 2009 o título de "a mais bela do Cinema", isso nos foi noticiado pela Efe, em Paris. Os leitores-eleitores da "Vogue", um total de 2000, todos cinéfilos (puxa!) votaram na moça. Nem vamos falar da imensidão de mulher bonita que ficou atrás porque o assunto aqui é AUDREY HEPBURN.
Mais do que isso. O assunto aqui também é WILLIAM WYLER, o diretor de "Ben-Hur" e "A Princesa e o Plebeu" (Roman Holiday), ou seja, esse gigante do cinema sempre fez o certo, contrabalançou superproduções com filmes de tamanho menor, não porém sem o mesmo impacto. E os dois, diretor e atriz (ambos na foto acima), trabalharam juntos em "A Princesa e o Plebeu", de 1953, a descoberta dela pelos americanos e pelo Oscar.
Eles retornariam a trabalhar num filme de 1961, com roteiro (baseado em peça homônima) da escritora americana Lilian Hellmann, que é "THE CHILDREN'S HOUR", um filme menos comentado.
Audrey Hepburn, James Garner e Shirley McLaine em THE CHILDREN'S HOUR
Hepburn e McLaine, interpretações precisas em grandes momentos
Um colégio de garotas. Duas professoras são as donas, duas jovens e belas, na flor da idade. Uma é loira (McLaine, sempre mudando de feição a cada filme) e tem uma vida aparentemente ascética, não tem namorado e vive para a instituição. Karen, a morena (Hepburn, em uma atuação bastante contida pelo diretor) tem um namorado que é interpretado por James Garner. No momento em que uma das meninas começa a bisbilhotar coisas que não interessam a ela, começa a juntar A com B, fazer relações confusas ou não em sua cabeça e finalmente a armar intrigas com as coleguinhas da escola, a perceber que ela praticamente manipula os pensamentos da poderosa avó (que mora numa mansão e parece ser uma das líderes daquela comunidade) a coisa pega fogo. A menina supõe que ações inapropriadas das duas professoras ou, como é dito no filme, "unnatural", possam ser motivo de chantagem barata. O que era suposição pode muito bem ter um fundo de verdade, ou melhor ainda, "onde há fumaça, há fogo".
Wyler expõe uma América montada num detonador
O filme, que é rodado magistralmente em preto-e-branco, utiliza esse artifício para contar os pretos-nos-brancos dessas vidas. Muita surpresa ainda vai acontecer depois que a menininha despeja o terremoto na vida de suas professoras. As conseqüências não serão fáceis. O bom é que Wyler abusa dos closes, aproveita suas atrizes ao máximo, extrai delas interpretações em que quase não precisa usar o corte de um plano a outro.
Sua encenação contida exibe por inteiro e faz cair a máscara de uma América com uma hipocrisia latente e visceral, irresponsável a pontos de não medir as ações, e tropeçar em si mesma. A música é de Alex North, também contida, vai no ponto, some por instantes. O roteiro de "THE CHILDREN'S HOUR" vem da peça de Lilian Hellmann, cuja adaptação ela mesma tratou de fazer para o elenco de Wyler. Grande escritora, grande diretor, belas interpretações.
(Ruy Jobim Neto)
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